A Braga 25 entra no último trimestre do ano com propostas multidisciplinares focadas no encerramento de ciclos que viveram na cidade ao longo do ano, com destaque para os espetáculos que vão fechar a Capital Portuguesa da Cultura durante o mês de dezembro.
Seara: A Música Portuguesa em Evolução é o culminar do caminho que tem vindo a ser construído no Clube Raiz, um projeto que valoriza o património musical da região. A 19 de dezembro, juntam-se no palco do Theatro Circo, num concerto colaborativo e único, Amélia Muge, Daniel Pereira Cristo, Júlio Pereira, Manuel de Oliveira e Rão Kyao, acompanhados por Miguel Veras e Quiné Teles. O repertório cruza obras originais e arranjos inéditos.
A 13 e 14 de dezembro, Marco Martins estreia Um Inimigo do Povo, na Sala Principal do Theatro Circo. As imagens do episódio de 2024 na Rua do Benformoso, onde cerca de 60 imigrantes, sobretudo do Bangladesh, foram forçados a permanecer encostados à parede com as mãos na cabeça durante duas horas, tornaram-se virais e geraram debate público sobre a legitimidade da ação e a exposição de pessoas sem antecedentes criminais. Por volta da mesma altura, o encenador considerava adaptar Um Inimigo do Povo, de Henrik Ibsen, cujo texto se foca no conflito entre o indivíduo e o coletivo. A peça, escrita e encenada por Martins, é construída a partir dos testemunhos e biografias destas pessoas imigrantes, agora envolvidas no elenco.
O fecho oficial da Braga 25 acontece a 28 de dezembro, naquele que será, também, um momento de passagem de testemunho para Ponta Delgada, a próxima cidade a receber o título de Capital Portuguesa da Cultura. No palco do Theatro Circo, haverá um momento protocolar entre as duas cidades, com uma celebração das tradições de cada região.
Um mês antes, em novembro, o projeto O que fazemos com isto?, que tem vindo a explorar com um grupo de jovens as questões e o legado colonial português, dá a conhecer os objetos artísticos que resultam destes encontros. A 20 e 21 de novembro, são apresentados um livro de contos e ilustrações originais, com a mentoria do escritor Ondjaki.
Estes textos, escritos através de testemunhos reais dos jovens que participam no projeto, servirão de base para uma performance final. O programa inclui uma vídeo-instalação de Diogo Gazella Carvalho, um percurso pelas marcas do império português na cidade, orientado por Chisoka Simões, e outros momentos de pensamento propostos pelo grupo criado e pelo projeto MigraMediaActs, que conta com a presença de especialistas e académicos.
A literatura é o ponto de partida para o Festival Utopia, que regressa a partir de 14 de novembro a vários espaços da cidade. O festival de literatura traz espetáculos, conversas e oficinas com autores consagrados, exposições, passeios literários e ainda propostas para as escolas, naquela que é a vontade de incentivar o contacto com as diferentes formas de expressão artística que partem deste objeto do nosso dia a dia. Destaca-se a estreia de uma peça encomendada a Tolentino de Mendonça, concebida para ser apresentada em espaços de culto. A estreia absoluta acontecerá na capela da Imaculada.
No último trimestre da Braga 25, destaca-se, ainda, o programa Cenários, uma iniciativa que resulta da colaboração com o Teatro Nacional D. Maria II. No ano da Capital Portuguesa da Cultura, artistas, pensadores e público são convidados a conhecer e debater a forma como Braga tem interpretado este projeto, com um programa que celebra o diálogo entre a criação artística nacional e as possibilidades de ligação com a Europa.
O programa propõe uma ronda de conversas, às quais se junta uma criação de Mohamed El Khatib, A Vida Secreta dos Velhos, apresentado no Theatro Circo a 28 de novembro.
O Supracasa, o programa de apoio à criação artística nas artes performativas da Braga 25 que selecionou cinco criadores em 2024 — e continuará em 2026 — , tem duas apresentações no próximo trimestre.
A performer Ana Isabel Castro apresenta, no Theatro Circo, Adoçar. Neste espetáculo de dança que estreia a 14 de novembro, a criadora reflete sobre o que significa o processo de adoçar como sinónimo de lavar, retirar o sal, o suor do corpo e, por consequência, o tornar doce.
O segundo projeto de criação — Búzio, de Ana Baptista — é apresentado a 31 de outubro. Num exercício de investigação e de autoficção sobre o turismo balnear e as realidades contrapostas, a criadora como ponto de partida os típicos lugares portugueses à beira-mar que sobrevivem à custa do turismo sazonal.
Chegando a outubro, destaca-se, ainda, o capítulo final Pipe Poetics, que leva a escocesa Claire M Singer a uma das igrejas mais emblemáticas da cidade, a Igreja de Santa Cruz. Com um grande espetro de atuação — tanto na música eletrónica, como nas artes visuais — a compositora é especialmente conhecida pela abordagem experimental no órgão, onde explora com desteridade texturas harmoniosas e tons complexos que se transformam em paisagens sonoras marcantes. O concerto é gratuito e acontece na tarde de 4 de outubro.
O Cinex também vê a sua conclusão na exposição que Laura San Segundo traz até ao gnration. Na exposição Os Corpos de que nos Despedimos, a artista visual retira do seu contexto original cerca de duzentas fotografias do início do século XX que mostram retratos de mulheres com os seus cães. Através da utilização de materiais de arquivo, da imagem fotográfica e em movimento, da escrita e da performance, San Segundo reflete sobre como representamos o luto animal, sobre os corpos de que nos despedimos e sobre o papel que a imagem desempenha neste ritual. A exposição pode ser visitada entre 10 de outubro e o final de dezembro.
Durante os próximos três meses, o programa de mediação da Braga 25 também fecha alguns ciclos programáticos. O Porta do Fazer volta a reunir especialistas em oficinas dedicadas à exploração do património do Minho com uma perspetiva contemporânea. As oficinas do Porta do Comer que têm vindo a preencher os sábados de muitos curiosos transformam-se agora num restaurante Braga 25, onde os três pratos desenhados ao longo do ano pelos chefs convidados podem ser degustados.
Destaca-se, ainda, a colaboração inédita da Orquestra de Dispositivos Eletrónicos com o Coro de Doentes e Amigos Oncológicos, um coro comunitário que tem como objetivo principal combater o isolamento social dos doentes oncológicos e dos seus cuidadores. Este espetáculo, com apresentação a 8 de novembro no gnration, não é apenas uma exploração musical singular e irrepetível, mas também um símbolo de cura coletiva através da música e do sentido de comunidade.
Da agenda da Braga 25 para o último trimestre fazem também parte espetáculos da programação regular do Theatro Circo e gnration, que já tinham sido anunciados em julho. Destacam-se Oneohtrix Point Never, Bonnie Prince Billy, Jabu, Hermeto Pascoal & Grupo, Stephen O’Malley, entre outros artistas internacionais.