A ativista anarcofeminista María Galindo encabeça, desde 1992, o coletivo boliviano Mujeres Creando, cuja missão é levar até às ruas da Bolívia expressões artísticas de outras mulheres afiliadas. É psicóloga, locutora de rádio, autora e já foi apresentadora de TV, mas é principalmente conhecida pelas suas performances efervescentes e políticas.
Braga 25 (B25) – Estarás programada no Desejar, enquanto artista, performer e também enquanto oradora. Como podemos relacionar o Desejo com o conceito de revolução?
María Galindo (MG) – Deixo isso justamente para a minha intervenção, mas o título é uma síntese perfeita desta relação: revolução rima com ilusão.
B25 – Sabemos que, nas tuas conferências/performances, tudo pode e vai acontecer… Mas o que podemos esperar da tua conferência no Desejar?
MG – Poderíamos dizer que faremos uma palestra sobre a revolução, mas o tom, o conteúdo e os movimentos transformarão o que se pretende ser uma palestra num ato de agitação política panfletária. O seu resultado talvez seja uma oração e o seu clímax uma performance. Exploraremos a revolução como um conceito, para ir além do conceito e entrar na revolução como uma ilusão e, com a ajuda das ilusões, despertá-la e transformá-la em desejo.
B25 – A tua longa-metragem “Revolución Puta”, será exibida durante o festival. Como te surgiu este projeto?
MG – Foi uma necessidade da luta das trabalhadoras do sexo na sua relação com o Estado. Cansámo-nos de uma relação repetitiva que nos desgastava e decidimos estabelecer uma relação com a sociedade através de um filme. Foi assim que nasceu o projeto — da relação frustrante e repetitiva com o Estado.
B25 – Qual foi o impacto em quem já viu o documentário?
MG – O impacto na Bolívia foi muito grande. Poderíamos dizer que foi um fenómeno cultural. Estreámos em todo o país, enchemos cinemas e teatros que normalmente estão vazios. Recolhemos muito dinheiro para os nossos colegas ativistas, gerámos um grande debate e acabámos efetivamente com a repressão policial contra as trabalhadoras do sexo.
B25 – A pergunta que não podia faltar: o que desejas?
MG – Os meus desejos são muito simples — gosto da vida. Desejo amor, tempo para descansar, que é o que mais preciso. Desejo um bom livro para ler. Desejo tempo para pensar e escrever. Falaremos sobre os meus desejos proibidos na conferência.
A programação completa do Desejar – Movimento de Artes e Lugares Comuns pode ser consultada aqui.