A Academia do Desejar: Rodas de Conhecimentos é um dos eixos do projeto Desejar – Movimento de Artes e Lugares Comuns. Pretende gerar trocas de conhecimentos entre e com diferentes agentes culturais, sociais, educativos e ambientais de Braga, bem como pessoas ligadas a áreas e temáticas identificadas como relevantes por estes agentes, que serão convidadas a participar nesta Academia.

 

PRÓXIMA RODA DE CONHECIMENTOS

  • 5 e 6 de Outubro de 2024

Como desejar ainda? Arte e Transição Ecológica

Ativadora: Clara Antunes

Convidada: Anabela Carvalho (Universidade do Minho)

INSCRIÇÃO

Gratuito, mediante inscrição

+ Inscreve-te aqui.

Horário:

5 de Outubro – 10h às 19h

6 de Outubro – 10h às 13h

Local: Ludoteca, Parque da Ponte – Braga

SINOPSE:

Como desejar ainda, num mundo hipersaturado de ecologias em colapso?

Vivemos hoje o desejo de progresso dos nossos antepassados modernistas – o desejo de quem nos antecedeu, portanto. Hipernormalizou-se um entendimento cartesiano do mundo, mediante o qual a cultura detém agência absoluta sobre a natureza e a humanidade impera, na convicção que tornar mais do mundo disponível, atingível e acessível configura a boa vida.

A crise climática e ecológica apresentam, contudo, uma dissonância concreta a esta concepção antropocêntrica: não estamos livres das nossas circunstâncias materiais. Os desequilíbrios impostos ao Sistema Planetário da Terra pairam como um “hiperobjecto” (Morton 2013) e antecipam o colapso – um novo fim que antecede outros devires. O que nos inibe, psicológica e culturalmente, de enfrentar as crises multidimensionais que a emergência climática traz à nossa perpepção?

Com base no estudo “Prospecting Otherwise: stirring culture’s role in tackling the climate emergency”, questiono-me: pode a experiência artística gerar outros modos de conhecimento e construção de sentido face ao colapso? Que papel lhe cumpre numa mudança radical de paradigmas culturais que permita perspectivar outro devir, desenhando novas orientações e éticas “ecocêntricas” alternativas?

Diz-nos o filósofo Báyò Akómoláfé numa palestra recente: “A ética é o mundo no seu devir erótico, o mundo à procura, ofegante, orgásmico, constantemente a tornar-se ele próprio de uma forma aberta; é como as coisas se materializam, num universo processual, em fluxo.” É imperativo procurar outras éticas de relação com o mundo, que assumam a interdependência e a ontologia impermanente das coisas, abrindo espaço para a emergência de novas relações de reciprocidade – modos de operar ecológicos.

Proponho-me experimentar convosco, em dois dias (que num entendimento não linear do tempo podem até configurar uma vida), outras práticas ecológicas e estéticas de relação e apreensão sensível, ou quiçá sensitiva. Esta formação exploratória desenvolver-se-á em quatro movimentos:

  • Sintonização: práticas contemplativas/criação de um clima de atenção
  • Ficar-com: conceitos fundacionais e discussão
  • Sentir-pensar: práticas de incorporação de sentido
  • Perspectivar outro devir: pensar e operar em coletivo

Mover-nos-emos, a passos incertos, pelo lodo, por caminhos íngremes e perigosos – assumindo a possibilidade da queda, ou do erro, como acto generativo e político – mas deixaremos também escorregar o corpo para lagoas tépidas e cristinalinas, abandonando-nos ao prazer de simplesmente estar em presença. Não antevemos o que desejar. Sabemos, no entanto, que fazer emergir o desejo – condição para a constituição de mundos – implica deixar para trás uma ideia afirmativa do destino e antes acolher, em conjunto, o inesperado.

ATIVADORA:

Clara Mealha Antunes (n. Lisboa, 1988)

Gestora cultural, licenciada em Arquitectura (FA-UTL), pós-graduada em Programação e Gestão Cultural (Universidade Lusófona) e Mestre em Estudos Culturais (FCH-UCP), cuja área de interesse e investigação trata o papel da cultura e da experiência artística na mudança de paradigmas culturais face à crise ecológica e climática. Tem vindo a trabalhar na produção, assistência à programação artística com as comunidades, comunicação e gestão de projectos culturais com várias estruturas e artistas independentes desde 2010, entre eles: Vo’Arte; Jonas&Lander; Materiais Diversos; Madalena Victorino e Giacomo Scalisi (Festival TODOS, Lavrar o Mar, etc.); Rua das Gaivotas 6/Teatro Praga; Ponte 9 Plataforma Criativa/Open House Macau; Formiga Atómica, entre outros. Assume, desde 2021, gestão do projecto europeu “Stronger Peripheries: A Southern Coalition”, na Artemrede. Co-criou, em conjunto com o coreógrafo Ricardo Machado, a palestra performativa sobre alterações climáticas Take a Stand (2019-).

 

PRÓXIMAS RODAS DE CONHECIMENTOS

29, 30 e 31 de Outubro de 2024

O Paraíso é Aqui?

Arte e Espaço Público

Artistas ativadores: Catarina Lacerda e Rodrigo Malvar

Convida/o: José Manuel Lourenço (Motorista transportes públicos)

22, 23 de Novembro de 2024

Desejamos trabalhar em rede?

as parcerias como imperativo para enfrentar os desafios atuais

Ativador: Rogério Roque Amaro

Convidado: Carlos Videira (Braga Habit) e António Araújo (Presidente da Associação de Moradores das Enguardas)

Mais informações: desejar2025@gmail.com

 

RODAS DE CONHECIMENTOS ANTERIORES

5 e 6 de Julho de 2024

Cultivar processos de criação coletiva

Artista-ativador: Francis Wilker

Convidado: Luís Fernandes (Diretor Artístico do Theatro Circo e Músico)

Gratuito, mediante inscrição

  • + info e inscrições aqui (inscrições abrem no dia 19 de junho)

Horário:

Sexta-feira, dia 5: 17h30 às 20h30

Sábado, dia 6: 10h às 13h + 14h às 17h

Limite participantes: 15

Local: gnration – sala de formações

Nesta primeira Roda de Conhecimento vamos apresentar e experimentar alguns dispositivos para estimular processos de criação coletiva, na perspetiva de valorizar as singularidades, habilidades, os diferentes percursos de vida e pontos de vista das pessoas participantes, com vista à composição de criações artísticas originais. Esta proposta orienta-se com base em dois fluxos complementares:

1) fazer emergir materiais

2) compor com os materiais criados

Nas sessões serão propostos alguns vetores de ativação junto a grupos, como: tocar o espaço; escavar memórias; imagem poética; diálogos improváveis; percorrer a paisagem. Na dimensão da composição, serão experimentados procedimentos como: simultaneidade; justaposição e colagem como possibilidades para criar roteiros, sequências e percursos na elaboração de propostas artísticas a serem partilhadas.

Bio do artista-ativador

Francis Wilker é um artista da cena, diretor, pesquisador e curador. Professor do curso de licenciatura em Teatro e do Programa de Pós-Graduação em Artes do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará. Doutor e Mestre em Artes pelo programa de pós-graduação em Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), onde desenvolveu pesquisas sobre encenação no espaço urbano e a noção de encenação-paisagem. É um dos fundadores do grupo brasiliense Teatro do Concreto, com o qual encenou, entre outros, Diário do Maldito (2006), Ruas Abertas (2008), Entrepartidas (2010), Festa de Inauguração (2019), numa pesquisa continuada envolvendo processos de criação colaborativos e o interesse pela relação entre cena, site specific e paisagem. No âmbito do seu trabalho artístico-pedagógico, já desenvolveu também projetos de criação cênica junto a escolas públicas e associação de apoio a dependentes químicos em Brasília. Como curador, colaborou com os seguintes festivais: Festival Internacional de Teatro de Brasília – Cena Contemporânea (DF); Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia -FIAC-BA (BA), Festival Nordestino de Tetro de Guaramiranga (CE) e a MITbr Plataforma de Internacionalização das artes cênicas brasileiras que integra a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp). É autor do livro Encenação no Espaço Urbano (Editora Horizonte, 2018). Em 2022, foi artista convidado para residência artística no espaço Central Elétrica (Porto), em projeto com financiamento do Programa Iberescena e criou o solo Difrúcio, numa pesquisa sobre memórias do corpo e do espaço. Em 2022, criou em parceria com Verônica Veloso e Glauber Coradesqui o trabalho Walkshop Paris, realizado num congresso de Teatro em Paris e que se configurou como uma caminhada performativa pela cidade.