À conversa com Cláudia Cibrão, responsável pelo Programa de Mediação da Capital Portuguesa da Cultura, percebemos melhor o impacto direto que a mediação de públicos tem no dia a dia dos cidadãos e o potencial da criação de hábitos de consumo de cultura a longo prazo.
Braga 25 – Por vezes, o trabalho de mediação de públicos pode parecer mais invisível. Consegues explicar o raio de ação do Programa de Mediação da Braga 25 e como se insere na programação da Capital Portuguesa da Cultura?
Cláudia Cibrão – O Programa de Mediação da Braga 25 procura ser a ponte entre artistas, agentes culturais e cidadãos, aproximando a programação da Capital Portuguesa da Cultura de todos — desde quem já participa ativamente na vida cultural da cidade, até quem raramente tem esse contacto. Trabalhamos em formatos muito diferentes: há dias em que estamos com uma turma de 20 participantes, num trabalho de proximidade, e outros em que nos cruzamos com centenas de pessoas num só evento. As duas dimensões são necessárias, porque a relação com a cultura varia de pessoa para pessoa.
Em boa verdade, o impacto não se limita ao momento em si – pode começar antes e continuar depois de cada evento ou atividade. No ciclo Porta do Cuidar, por exemplo, trazemos curadores e artistas de outros projetos da iniciativa para a conversa, ajudando a ampliar os temas e ações; nas Visitas Guiadas B25, propomos roteiros mensais pelas diferentes atividades programadas, apoiando na sua disseminação e fruição; e no Programa de voluntariado colocamos cidadãos que não trabalham no setor a auxiliar ativamente os projetos ao longo de todo o ano, criando um contacto próximo e constante, enriquecido pelos dois lados dessa experiência – para quem acolhe e para quem participa.
O nosso raio de ação é, por tudo isto, intencionalmente diverso: atuamos em escolas, convocamos associações, trabalhamos com instituições e com grupos em risco de exclusão, artistas e agentes, saindo muitas vezes dos nossos espaços para ir ao encontro das pessoas — do Salão Nobre do Theatro Circo a auditórios de Juntas de Freguesia ou salas de aula. Em tudo o que fazemos procuramos criar oportunidades de aproximação entre a população, o setor cultural e a iniciativa, e é isso que acreditamos que pode tornar este ano tão especial: essa disponibilidade para sair da zona de conforto.
B25 – Consegues identificar o impacto do programa na vida das pessoas? Há algum projeto do Programa de Mediação da Braga 25 onde esse impacto seja mais óbvio ou visível?
CC – O impacto vê-se sobretudo nas mudanças subtis, mas profundas, na relação das pessoas com a cultura. Quando alguém que nunca tinha entrado num teatro regressa por iniciativa própria, ou quando um grupo escolar transforma uma atividade desenvolvida em oficina numa ideia de projeto, percebemos que a mediação está a cumprir o seu papel.
Estivemos recentemente com um grupo de crianças pouco motivado, convencido de que a atividade não lhes traria nada de especial. No final, saíram entusiasmadas e prontas a falar com as famílias para participar noutras ações fora do contexto escolar. Isto prova que estes momentos de proximidade são essenciais para gerar resultados a longo prazo — e que, para isso, é preciso paciência e dedicação para colher os frutos depois. O mesmo acontece com a Geração B25+, grupo que nos acompanha há anos: vemos a evolução individual de cada jovem e, ao mesmo tempo, a sua capacidade de nos ajudar a chegar a outros. O Programa de Voluntariado tem também esse efeito multiplicador, criando laços e novos hábitos culturais que perduram. Tudo isto exige tempo, escuta e consistência e, principalmente, a valorização de cada pessoa, independentemente do seu ponto de partida.
B25 – Qual consideras ser o maior desafio no que diz respeito à captação de novos públicos?
CC – O maior desafio é quebrar a ideia de que “a cultura não é para mim”. Muitas vezes não é falta de interesse, mas sim barreiras invisíveis: horários pouco compatíveis, preços, distância física ou simplesmente a ausência de referências. É preciso tempo e conteúdos acessíveis para que as pessoas se sintam incluídas e representadas na programação. Isso implica escutar mais do que falar, adaptar formatos e, muitas vezes, levar a cultura até onde as pessoas estão. Só assim conseguimos criar a primeira experiência positiva — aquela que abre a porta para todas as outras.
B25 – Que ações ou eventos do ano destacarias até ao final do ano? E porquê?
CC – Até ao final do ano destacaria quatro momentos muito diferentes, embora todos dentro do Programa Portas de Entrada. O primeiro é o Porta do Fazer, que terá ainda duas das três oficinas previstas para o ano de 2025. Cada sessão junta um grupo ou associação da cidade com um artista de reconhecimento nacional, para trabalhar sobre um saber-fazer local ou regional. É uma oportunidade de cruzar tradições e práticas antigas com novas linguagens artísticas, criando algo novo sem perder a ligação às raízes culturais que as originam.
Outro momento especial será o encerramento do Porta do Comer. Depois dos três workshops gastronómicos realizados ao longo do ano, teremos agora uma espécie de restaurante temporário que trará de volta os seis chefs que connosco trabalharam, dando ao público a possibilidade de provar os pratos criados para essas experiências. Por fim, haverá ainda a última oportunidade de participar no Porta do Lembrar: apresentaremos um roteiro improvável conduzido por um guia não profissional da cidade, onde o foco estará nas memórias e histórias pessoais de quem guia, e não nos monumentos ou locais. É uma forma de conhecer Braga através do olhar e da vida de quem a habita.